Uma complexa trama de corrupção e crimes ambientais envolvendo o empresário Laerte Codonho, dono da Dolly Refrigerantes, e o advogado Francisco Roberto Souza, ex-assessor direto do atual prefeito de Embu das Artes, Hugo Prado, resultou em uma série de condenações judiciais após anos de investigação.

Laerte Codonho preso em 2018 — Foto: Nelson Antoine/Estadão Conteúdo
O esquema, iniciado em 2018, revelou uma rede de subornos, manipulação de documentos públicos e desmatamento ilegal em área de preservação ambiental na cidade de São Lourenço da Serra, na Grande São Paulo. As consequências dessas ações foram devastadoras para a população local e resultaram em prejuízos ambientais irreversíveis.

O Início do Esquema e o Desmatamento Ilegal
As investigações apontaram que Laerte Codonho, com o auxílio de Francisco Roberto Souza e outros envolvidos, promoveu um amplo desmatamento ilegal em São Lourenço da Serra. A área afetada, uma região de preservação ambiental, foi explorada comercialmente sem autorização legal.

Área de cerca de 6 hectares desmatada ilegalmente em São Lourenço da Serra
A remoção da vegetação nativa impactou diretamente o ecossistema local, alterando o curso natural das águas pluviais. Como consequência, a cidade passou a enfrentar uma série de inundações que causaram transtornos aos moradores e prejuízos econômicos.

Em abril de 2019, após fortes chuvas, São Lourenço da Serra registrou uma das maiores enchentes de sua história, afetando diversas residências e comércios. Moradores relataram que esse tipo de alagamento nunca havia ocorrido antes da devastação ambiental promovida pelo grupo criminoso.
A Trama de Corrupção e a Participação de Francisco
De acordo com investigações conduzidas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), Francisco Roberto Souza utilizou sua influência política para facilitar as atividades criminosas lideradas por Laerte Codonho.

Ele foi acusado de intermediar o pagamento de propinas a servidores públicos para evitar fiscalizações e manipular documentos com o objetivo de encobrir as irregularidades ambientais.
Afastamento e Condenação
Em meio às investigações, Francisco foi afastado de suas funções na Câmara Municipal de Embu das Artes em janeiro de 2025.
A Justiça condenou Francisco Roberto Souza pelos crimes de falsidade ideológica e falsificação de documentos particulares. A pena total imposta foi de 2 anos e 4 meses de reclusão, além de 22 dias-multa, com cada multa fixada no valor de cinco salários-mínimos vigentes à época dos fatos. A decisão considerou o poderio econômico de Francisco, que integra o Grupo Dolly e ocupava uma posição de confiança dentro da empresa.
Além de Francisco e Laerte Codonho, outros três réus — Júlio César Requena Mazzi, Caloger Claude Alain Nicolosi e Gilson Silva — também foram condenados por participação no esquema.
Impactos Ambientais e Sociais
A devastação da área protegida teve consequências diretas para os moradores de São Lourenço da Serra. As frequentes inundações que ocorreram após o desmatamento causaram prejuízos econômicos expressivos e deixaram diversas famílias desalojadas.
Moradores relataram que alagamentos como os registrados após a remoção da vegetação nunca haviam ocorrido na cidade.
Defesa e Desfecho Judicial
Francisco Roberto Souza alegou que sua atuação foi apenas como advogado e que não teve envolvimento direto nas práticas criminosas. No entanto, o juiz Djalma Moreira Gomes Júnior, responsável pela sentença, destacou que as provas apresentadas eram contundentes e comprovavam sua participação ativa no esquema.
Na decisão, o magistrado afirmou que as ações dos envolvidos demonstraram “total desprezo pelas normas ambientais e pelo bem-estar social”.
Francisco e os demais condenados ainda podem recorrer da decisão, mas a sentença é vista como uma importante vitória no combate à corrupção e aos crimes ambientais na região.
A equipe do Embu News seguirá acompanhando o caso e trará atualizações sobre novos desdobramentos.