Há dois anos atrás, dia 27 de dezembro de 2017, Gabriel Barbosa, conhecido como Gabriel Binho, estava voltando para casa em sua moto quando um carro modelo i30 cor prata o empurrou pra fora da pista, derrubando o jornalista no acostamento da rodovia Régis Bittencourt. Antes de Binho entender o que tinha acontecido, o carro acessou a marginal da rodovia e efetuou disparos com arma de fogo.
Binho, fotógrafo, chargista e jornalista do site Verbo Online, faz reportagens investigativas, edita matérias e divulga denúncias que chegam até ele. É considerado por boa parte dos munícipes de Embu das Artes um “cidadão que não tem medo” e “alguém que fala a verdade”.
Por conta do acidente, Gabriel fraturou o tornozelo, fez cirurgia, colocou parafusos e deu depoimentos as autoridades legais para ajudar a polícia a investigar o caso. Durante 2 meses ninguém foi indiciado e nada se soube sobre o caso.
Até que em fevereiro, uma pista levou os investigadores de polícia a procurarem pelo carro i30 prata na casa de um então agente penitenciário chamado Lenon Roque. Ao chegar na porta da casa de Lenon, tanto estava o carro quanto marcas da cor da moto de Gabriel Binho. Lenon foi interrogado durante horas e confessou ter participado do atentado contra Gabriel Binho junto de Renato Oliveira, então subsecretário da prefeitura de Embu das Artes.
Na ocasião, Renato, subsecretário de comunicação, foi até a delegacia central de Embu das Artes “prestar esclarecimentos”. Como Lenon Roque já tinha confessado o crime, coube a Renato apresentar a sua versão.
Outro lado
Em gravação para o canal Embu Tuber no dia 22 de fevereiro de 2018, Renato Oliveira disse não quis machucar Binho e que o caso é usado para persegui-lo politicamente e que, apesar de Renato ter sido indiciado por homicídio triplamente qualificado, Gabriel Binho criou “uma grande novela”.
Ele conta que que o fotografo flagrou Renato e uma amante na festa chamada “Embu Summer Fest” no dia 13 de dezembro de 2017, e que Binho foi contar para a atual esposa de Renato Oliveira. Então, o subsecretário quis conversar para entender por que Binho fez isso. Gabriel diz que nunca presenciou nenhuma cena parecida com a contada por Renato e que nunca foi no evento Embu Summer Fest.
A gente abriu o vidro e falou: ‘Binho encosta que a gente quer falar com você’.
Versão de Renato Oliveira, admitindo que perseguiu Gabriel Binho na Rodovia Régis Bittencourt e que queria “conversar”.
VÍDEO: Confira o vídeo em que Renato Oliveira diz que queria “apenas conversar” com Gabriel Binho.
Ao perguntar por que, mesmo tendo visto Gabriel Binho no chão, não parou para socorre-lo, Renato disse: “quando parei para socorrer ele estava de pé, resolvi ir embora”. Binho quebrou o tornozelo no acidente e ficou sem andar durante alguns meses.
Prefeito Ney Santos é pego com arma raspada em carro oficial
No dia 01 de março de 2019, a PM Rodoviária, no município de Cosmópolis, abordou o carro oficial do prefeito de Embu das Artes, Ney Santos. Segundo a polícia, a abordagem é recorrente pois vários carros usam placas oficiais para burlarem a polícia.
Ao se identificar, Ney Santos disse que era prefeito e que estava em uma missão no interior de São Paulo com o seu motorista na ocasião.
O motorista? Lenon Roque, o mesmo que foi indiciado no caso Binho.
Lenon avisou que estava com sua arma, e que iria descer do carro. A polícia encontrou a arma, 45 munições, um canivete, algemas e um colete a prova de balas. Porém, ao averiguar, a arma que estava no carro oficial do prefeito tinha a numeração suprimida, a famosa “arma raspada”, considerada “arma fria”.
Segundo o professor Gustavo Octaviano Diniz Junqueira, por conta da “dificuldade em se demonstrar a materialidade do crime”, suprimir numeração de arma de fogo é crime, independente se o portador tem ou não posse ou porte.
a circulação de armas de fogo com a identificação adulterada afronta diretamente o espírito da legislação
Legislação Penal Especial . 5ª ed. São Paulo: Premier Maxima. 2008. p. 476
Ao puxar o histórico de Lenon, e identificar que o então agente penitenciário também estava indiciado no caso Binho, a polícia resolveu dete-lo até um juiz de custódia decidir sobre o caso. No dia seguinte, o juiz de custódia emitiu prisão preventiva pela arma raspada e também prisão preventiva pelo caso Binho.
No vídeo mostrado anteriormente, Renato Oliveira diz que Lenon é seu amigo e que “ele não anda armado em dia de folga”. Mas Lenon estava armado e com arma com numeração suprimida.
Lenon Roque continua preso no interior de São Paulo em um penitenciária estadual.
Renato Oliveira é pré-candidato a vereador
Mesmo indiciado por homicídio triplamente qualificado, fontes do Embu News apuraram que Renato é pré-candidato a vereador na cidade de Embu das Artes.
No Natal de 2019, Renato foi visto em cerca de 15 faixas ao lado do prefeito Ney Santos e do presidente da câmara, Hugo Prado espalhadas pela cidade. Além de moralmente questionável, faixas políticas são proibidas pela lei complementar nº 101 de 2007, a lei de consolidação do código tributário do município. A lei funciona como uma espécie de “Lei Cidade Limpa” de Embu das Artes.
“Fica proibida a colocação ou exibição de anúncio ou publicidade, seja qual for sua finalidade, forma ou composição, nos seguintes casos […]: XII – de propaganda política, mediante pintura ou a afixação de faixas, cartazes, dísticos e flâmulas em veículos de transporte coletivo ou individual, objeto de permissão ou concessão pelo Município;“
LEI: Conheça a lei nº 101 de 2007, a “Cidade Limpa” de Embu das Artes
Renato busca encontrar um público para a sua eleição. Anteriormente, Renato Oliveira era membro do MBL, mas foi expulso após envolvimento com Ney Santos. Segundo apuração do site Embu News, Renato chegou a tentar disputar internamente no Movimento Brasil Livre a liderança para ser candidato a vereador e deputado estadual, mas por sua índole o MBL preferiu expulsa-lo.
Fontes ainda garantiram que “ele nunca foi membro da executiva. Ele fala bem em público, era o nosso animador de auditório, mas nunca levamos ele a sério internamente”.
O pré-candidato Renato Oliveira responde por tentativa de homicídio triplamente qualificado.
Juri popular
O caso de Gabriel Binho estava, até o último mês, aguardando para ser julgado em júri popular, ou seja, quando cidadãos, previamente alistados, decidem sobre a culpabilidade ou não dos acusados, acerca de crimes dolosos contra a vida. Como o caso de Gabriel Binho é um caso sobre crime doloso – quando há a intenção de praticar o crime -, então o caso foi pronunciado – ou seja, foi enviado via juiz de direito – para ser julgado em júri popular.
Porém, no dia 12 de dezembro de 2019, a relatora Ely Amioka determinou que o juiz pronunciasse novamente Renato Oliveira e Lenon Roque, pois houve “excesso de linguagem” na pronúncia anterior.
Ao procurar explicações sobre o que seria “excesso de linguagem”, advogados ligados ao Embu News explicaram que isto ocorre quando um juiz é muito incisivo em sua pronuncia e pode influenciar o júri. A expectativa é que o juiz responsável pelo caso pronuncie novamente Lenon Roque e Renato Oliveira por tentativa de homicídio triplamente qualificado no primeiro trimestre de 2019.
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