Jovem de 19 anos denuncia servidor público municipal por enviar mensagens para seu celular

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*os nomes verdadeiros foram preservados por segurança

Recebemos nesta quinta-feira (11), a denúncia de J., um jovem de 19 anos, morador do bairro Valo Verde, em Embu das Artes. Segundo o garoto, que é entregador de pizza na região, um guarda da GCM – Guarda Civil Municipal – da cidade, teria o ameaçado e extorquido.

De acordo com o depoimento de J., o guarda municipal Levi Merlim o ameaçou dizendo que ele seria obrigado a retirar uma arma fria em um local combinado. Se o garoto não fizesse isso, ele teria duas opções: ir para a cadeia ou morrer.

“Escolhe, ou é isso, ou você vai lá ‘pra baixo'”, ele me disse

Depoimento de J. sobre a ameaça feita por um GCM da cidade

A abordagem, segundo J. teve início da seguinte forma: “Eles [os guardas] me abordaram e pediram meu documento. Eu mostrei. Eles viram o documento da minha moto e me disseram que já me viram roubando. Aí eu falei que não era eu”. Os guardas teriam, então, conferido as imagens e visto que não era o garoto, de fato, o ladrão. Mas não parou por aí. Os guardas teriam tentado ver com a mãe de J. se ele já havia roubado antes, a resposta foi negativa.

Na segunda-feira (8), os guardas voltaram a enquadrar J., que estava acompanhado de um amigo. “Você já sabe o que tem pra você aqui, né? O guarda me perguntou”, disse J. Segundo o garoto, nesse momento os guardas mostraram uma arma e uma pistola para os jovens. E, apontando para a arma, um dos guardas teria dito: “Eu vou embicar isso aqui em você. Você vai descer até Itapecerica e vai trazer uma arma pra mim”.

Nesse momento, de acordo com o depoimento, o guarda teria pegado o celular do amigo de J. e implantado uma conversa. Técnica que em breve faria igualmente no celular de J. Quando questionado sobre o que teria na conversa do celular do amigo, J. disse: “Olha lá, o 32, a pistola… eles [os guardas] depois provocaram perguntando onde estava a arma e que se a gente não trouxesse a gente ia pra cadeia”.

Assustado e “tremendo de medo”, como disse, J. fingiu que ia buscar a arma e saiu com o amigo. Mas foi ameaçado: “Se você não vier até as 18h eu vou fazer a sua mãe chorar. Tá ouvindo né? Já matei um monte e vou fazer sua mãe chorar também”.

Segundo J., os guardas têm a seguinte tática de implantar conversas e manter contato com os garotos que ameaçam. “Eles pegam o nosso celular, abrem o whatsapp, pegam o nosso número, anotam no próprio celular e já mandam uma conversa”. Foi dessa forma que o guarda manteve contato com J., que inclusive chegou a printar a conversa no WhatsApp.

Como J. não foi ao ponto de encontro retirar a arma, começou a receber ameaças mais severas. “O guarda começou a me perseguir, me mandar mensagem no celular, veio em frente a minha casa, começou a cantar música ‘o lobo mau vai te pegar’. Isso todo mundo ouviu e as pessoas sabem que eu não faço essas coisas”.

J. ainda disse que corria o risco de servir de laranja em algum esquema e também de ser vítima de implantação de provas falsas como armas e drogas para que ele fosse preso em flagrante. “Eu tô com muito medo, não estou nem saindo de casa por causa disso. Não quero ver minha mãe chorar.”, revelou o garoto.

No celular de J., as seguintes mensagens vem do mesmo número (não vamos divulgar o número para preservar a privacidade do usuário) por meio de uma mensagem de WhatsApp:

18:44: “Abraço amigo”.
18:45: “Ramelou em mano”.

No dia seguinte:

20h08: “Tá por onde mano”.
20:08: “Deixou a gente falando”.

J. não respondeu nenhuma mensagem. Na imagem do perfil do número, está a foto de um rapaz utilizando o uniforme da GCM.

Veja o depoimento de J. completo:

Mãe se pronuncia: “Qualquer coisa que acontecer com o meu filho, a culpa é deles”

A mãe de J., Dona M. foi ouvida por nossa equipe de reportagem. Sobre o ocorrido, Dona M:

“Se o policial quer procurar traficante vai na boca, não na minha porta. Eles tão procurando bandido, eles sabem onde tem. Estão ameaçando o menino errado”, deixou claro. E pontuou: “Eles sabem que não é meu filho. (…) Mas se eles não tem capacidade de entrar numa boca de fumo, então deixa para outros policiais que tem coragem pra isso. Porque se tem farda tem que ter coragem. Esse papel é muito pior do que de bandido”.

“Agora eu estou com medo da polícia, que é quem deveria estar me defendendo (…). Eles tão me ameaçando, falando que eu vou chorar. Então eles são matadores. Estão matando os jovens (…) E sempre é ladrão, porque eles já tem arma fria e droga e eles andam com arma no peito.”

Veja segunda parte do depoimento de Dona M.:

Policial confirma mensagem

Questionado sobre a denúncia, o guarda municipal disse: “Faz um boletim lá, se você acha que tô extorquindo. Eu entrei nessa profissão aqui para prender ladrão, não foi para extorquir não, cê é louco?”.

Questionado do porque que teria escrito que J. “ramelou”, o guarda municipal acabou confessando que foi ele mesmo quem escreveu a mensagem e explicou: “Pergunta pra ele por que ele tá ramelando, roubando entregador de pizza aí… Não é o ‘J.’ que você tá falando? Que tá roubando as pizzarias tudo aí?”.

Questionado porque teria mandado essa mensagem para um suposto bandido, o guarda municipal se defendeu: “Ele mandou o celular e falou pra gente: ‘se você acha que estou roubando pode me mandar mensagem’. Eu disse tá bom, sem novidade. Ele é suspeito. E suspeito não é acusado de nada.”.

Ao ser perguntado se esse era o procedimento correto de um guarda da GCM, a resposta foi: “e você ligar no meu celular é correto?”.

Por fim, o guarda encerrou dizendo: “Se eu fosse você eu iria na delegacia e faria um boletim de ocorrência. Se ele acha que está sendo ameaçado ou extorquido faria um boletim. É o que eu faria no lugar dele.”

Boletim de ocorrência e resposta de secretário

O jovem abriu um boletim de ocorrência, narrando o ocorrido e citando os GCMs.

Entramos em contato com o secretário de segurança de Embu das Artes, Thiago Freitas, que esclareceu que este não é o procedimento correto de um profissional da segurança na cidade e que repudia tais ações.

Thiago Freitas ainda esclareceu que vai abrir uma investigação interna para apurar o caso.

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