Nos Bastidores da Justiça: o embate entre a lei e o rodeio em Embu das Artes

Enquanto o palco é montado, a Justiça analisa denúncias de omissão e descumprimento da lei envolvendo o Embu Rodeio Fest 2025 — evento que pode expor o poder político por trás da festa

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O espetáculo antes das respostas

As luzes já estão sendo instaladas. A arena toma forma. Outdoors tomam conta da cidade, e as redes sociais do prefeito Hugo Prado e do ex-prefeito Ney Santos anunciam o Embu Rodeio Fest 2025 com entusiasmo. Um evento “sem uso de dinheiro público”, garantem.

Mas entre o som dos holofotes e o silêncio dos gabinetes, paira uma dúvida: quem está realmente por trás dessa festa — e por que a Prefeitura não apresentou nenhuma documentação oficial?

Nos bastidores da Justiça, uma ação judicial exige transparência. No papel, o argumento é simples: ninguém está acima da lei. Na prática, o poder parece falar mais alto do que o dever.

O silêncio que incomoda

A Prefeitura de Embu das Artes foi oficialmente notificada a apresentar alvarás, contratos, planos de segurança e documentos que comprovem a legalidade do evento. O prazo legal passou. Nenhuma resposta.

Enquanto isso, a estrutura do rodeio avança, contrariando determinações judiciais antigas que proíbem a realização de rodeios com uso de animais no município. Decisões essas amparadas pela legislação federal (Lei 10.519/2002), estadual e municipal.

A Justiça mandou parar. O poder público finge não ouvir.

As palavras que ecoam no processo

Um dos trechos mais fortes do documento judicial vem do advogado Dr. Marco Aurélio do Carmo, autor da ação que cobra transparência da Prefeitura. Em um texto que mais parece um retrato da realidade política local, ele escreve:

“Estas festas milionárias buscam atender o insano projeto de poder político e domínio soberano da região arquitetado por Ney Santos. Por enquanto está conseguindo sustentá-lo à custa do sacrifício do povo. Ele controla o Poder Executivo e manipula o Legislativo, usando e abusando do poder político e econômico, além de gozar da eterna sensação (certeza) de impunidade. É fato que Embu das Artes foi tomada por um grupo político que age como uma associação criminosa chefiada pelo ex-prefeito.”

Palavras duras e diretas que agora ecoam dentro do Fórum da cidade.

A engrenagem invisível

Mesmo fora do cargo, Ney Santos é apontado como o cérebro político por trás da administração atual. Nos bastidores, relatos de servidores e parlamentares indicam que decisões estratégicas ainda passam por seu aval.

Já o prefeito Hugo Prado mantém o discurso de continuidade, exaltando obras, eventos e parcerias privadas — enquanto evita responder sobre as acusações de omissão e descumprimento da Lei de Acesso à Informação.

Na prática, a linha entre o público e o privado parece cada vez mais borrada.

Festas de luxo e o retrato de uma cidade em crise

As séries de denúncias publicadas pelo portal Embu News vêm revelando, ao longo dos últimos meses, falhas graves na gestão municipal, que contrastam com a agenda de grandes festas e eventos.

  • Falta de pagamento para empresas que administram os equipamentos de saúde;
  • Profissionais da área relatando atrasos e incertezas sobre seus vencimentos;
  • Enchentes recorrentes e ausência de obras estruturais;
  • Caos na infraestrutura urbana e falta de transparência nas contratações públicas.

Apesar desse cenário, a Prefeitura continua priorizando festivais de alto custo — agora mascarados como “privados” — estratégia que especialistas apontam como forma de burlar fiscalizações do Ministério Público e do Tribunal de Contas.

Linha do tempo

  • 23 de outubro de 2025 — Protocolo de requerimento administrativo na Prefeitura pedindo acesso a informações sobre o Embu Rodeio Fest 2025. Nenhuma resposta.
  • 04 de novembro de 2025 — Ação judicial ajuizada na 2ª Vara Judicial de Embu das Artes exigindo transparência e suspensão de licenças.
  • 07 a 15 de novembro de 2025 — Data prevista para realização do evento, mesmo sem comprovação documental das autorizações legais.
  • Atualização — O processo aguarda decisão liminar. A Justiça pode suspender o evento a qualquer momento.

Leis que regem o caso

  • Lei Federal 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação) — obriga o poder público a fornecer informações solicitadas por qualquer cidadão.
  • Lei Federal 10.519/2002 — regulamenta o uso de animais em rodeios, exigindo fiscalização veterinária e comunicação prévia.
  • Leis Municipais 3.479/2025 e 3.487/2025 — estabelecem transparência nos atos públicos e obrigam divulgação de eventos com antecedência mínima de 30 dias.
  • Decisão Judicial Anterior — proíbe rodeios e eventos com animais em Embu das Artes desde a década de 1990.

A Justiça observa

O processo corre na 2ª Vara Judicial da Comarca de Embu das Artes, sob responsabilidade da juíza Bárbara Carola Hinderberger Cardoso de Almeida. A ação pede que o município apresente toda a documentação referente ao evento e se abstenha de emitir licenças até que as exigências legais sejam cumpridas.

Enquanto isso, o Ministério Público acompanha o caso, ciente de que o descumprimento de decisões judiciais pode configurar ato de improbidade administrativa.

O silêncio do poder

Nem o prefeito Hugo Prado, nem o ex-prefeito Ney Santos se pronunciaram sobre o processo.

Entre o brilho dos holofotes e a penumbra da lei, Embu das Artes volta a protagonizar uma história conhecida: a da festa que começa antes da autorização.

— Será que o prefeito Hugo Prado e Ney Santos vão ignorar a Justiça mais uma vez?

Reflexão final

Nos bastidores da Justiça, as vozes se calam, mas os autos falam. Cada documento, cada omissão, cada silêncio compõe o retrato de um poder que insiste em se impor sobre a lei. A verdade, como a poeira da arena, ainda paira no ar — à espera do primeiro sopro que a revele.

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