Delegado é solto após confusão em bar e acusação de injúria racial; arma foi apreendida e ele segue em atividade

Henrique Kästner Júnior, da Polícia Civil de São Paulo, responde por sete crimes após tumulto em pub no ABC Paulista. Defesa nega acusações e alega prisão ilegal

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O delegado Henrique Kästner Júnior, da Polícia Civil de São Paulo, foi colocado em liberdade provisória após passar por audiência de custódia no domingo, 29 de junho. Ele havia sido preso em flagrante na madrugada anterior, após se envolver em uma confusão no bar “Old Town English Pub”, no bairro Jardim, em Santo André, no ABC Paulista. A acusação inicial foi de injúria, mas o caso envolveu desdobramentos mais graves.


Old Town English Pub, em Santo André (SP), onde ocorreu caso de injúria racial.  • Reprodução/Old Town English Pub

Com a decisão judicial, Kästner Júnior permanece em atividade na Delegacia de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo. No entanto, ele está proibido de portar arma de fogo, uma das medidas cautelares impostas. Sua pistola Glock calibre 9 mm, apreendida no local com 16 munições intactas, foi recolhida por ordem judicial.

Sete crimes e versão controversa

O delegado foi indiciado por sete crimes, de acordo com os autos aos quais a reportagem teve acesso:

  • Injúria racial
  • Ameaça
  • Dano ao patrimônio
  • Embriaguez
  • Desacato
  • Resistência
  • Desobediência

A confusão teria começado quando Kästner, após consumir bebidas alcoólicas, se irritou com o chapéu usado por um dos músicos que se apresentavam no local. Testemunhas relataram que ele teria se dirigido ao artista com expressões de cunho antissemita, como “judeu do c…”.

A defesa do delegado contesta a versão. Em nota, o advogado Márcio Cunha Barbosa afirma que seu cliente apenas questionou o músico: “Por que você está usando esse chapéu? Você é judeu?”. Segundo a defesa, a pergunta foi feita em meio a uma discussão, mas sem a intenção de ofender. O músico, que não é judeu, não teria declarado sentir-se injuriado pela pergunta.

Arma sacada e clima de pânico

O episódio gerou pânico entre os clientes e funcionários do bar. De acordo com testemunhas, o delegado teria arrombado uma porta, danificado uma impressora e sacado a arma de fogo. Algumas pessoas relataram ter ouvido um disparo para o alto, o que aumentou o clima de tensão no local. Frequentadores chegaram a se esconder sob as mesas.

A defesa nega veementemente que qualquer disparo tenha sido feito. A arma do delegado foi apreendida sem sinais de uso. Não há registro oficial de feridos.

O boletim de ocorrência registra três vítimas: o gerente do bar e dois músicos.

Resistência e insultos a policiais

Ao ser abordado por policiais militares, Kästner teria resistido à prisão e proferido ofensas contra os agentes, chamando-os de “otários”, “trouxas” e “vagabundos”. O delegado alegou ter retornado ao local após perceber que havia esquecido as chaves do carro. Como a porta estava trancada, teria tentado reabri-la com um chute. Ele afirmou que os PMs agiram com arbitrariedade ao imobilizá-lo, chutá-lo e algemá-lo. Admitiu ter ficado nervoso e proferido palavras ofensivas no “calor do momento”, mas negou qualquer intenção racista.

Decisão judicial: liberdade com restrições

O juiz plantonista Paulo Antonio Canali Campanella, do Fórum de Santo André, entendeu que a prisão preventiva não era necessária naquele momento e a substituiu por medidas cautelares, incluindo:

  • Recolhimento domiciliar à noite e nos dias de folga
  • Suspensão do porte de arma
  • Comparecimento ao fórum sempre que intimado
  • Proibição de se ausentar da comarca por mais de oito dias sem autorização judicial

O magistrado também determinou o envio do caso à Corregedoria da Polícia Civil para apuração interna.

Nota oficial da defesa

“Não é verdade que Henrique teria se irritado com o chapéu de um dos músicos. Isso é invenção dissociada dos fatos. Também é falsa a afirmação de que ele teria dito ‘judeu safado’. Segundo o próprio músico, o delegado apenas perguntou se ele era judeu — sem tom ofensivo e sem intenção de injuriar. Essa pergunta isolada foi distorcida para justificar uma prisão absolutamente ilegal.”

“Reitera-se: não houve disparo de arma de fogo. A arma foi apreendida com todos os cartuchos intactos. O episódio vem sendo tratado de forma sensacionalista e em desacordo com os autos.”

Próximos passos

Kästner responderá ao processo em liberdade. O inquérito deve prosseguir com a análise de imagens de câmeras de segurança do bar, depoimentos adicionais e eventual denúncia do Ministério Público.

Enquanto isso, a Corregedoria da Polícia Civil poderá instaurar procedimento administrativo para investigar a conduta do delegado, o que poderá levar a punições disciplinares, incluindo afastamento temporário ou exoneração, a depender da conclusão da apuração.

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