A Verdade Documentada: Como a Justiça Reconstruiu a Noite Que Condenou Ney Santos

Sentença de 52 páginas revela contradições, arsenal clandestino, conexões políticas sensíveis e episódios de alto impacto envolvendo Ney Santos, Renato Oliveira e Lenon Domingos

COMPARTILHE

A manhã de 20 de novembro trouxe novos capítulos à história política de Embu das Artes. Às 8h13, o Tribunal de Justiça de São Paulo publicou a sentença que condenou o ex-prefeito Ney Santos a 3 anos e 9 meses de reclusão em regime semiaberto e a 13 dias-multa, após ser flagrado transportando uma pistola calibre .380 com numeração raspada — acompanhada de munições, carregadores e acessórios de uso restrito.

O documento, assinado pela juíza Mayara Maria Oliveira Resende, da 2ª Vara Criminal de Cosmópolis, possui 52 páginas e reconstrói minuciosamente a noite do flagrante.

Horas depois, às 21h28, Ney reagiu nas redes sociais, afirmando que “opositores voltam com a velha técnica de tentar atrapalhá-lo próximo a um ano eleitoral”, acompanhando a publicação com um vídeo criado por inteligência artificial.


A noite do flagrante: velocidade, contradições e uma arma no assoalho

Pistola Taurus .380 com numeração raspada e Ney Santos, então prefeito
Lenon Roque Alves Domingos, agente penitenciário e motorista escalado

A abordagem ocorreu em 28 de fevereiro de 2019, no km 143 da SP-332, quando um Toyota Corolla preto, alugado pela Prefeitura de Embu das Artes, foi parado por excesso de velocidade.

No veículo estavam:

  • Ney Santos, então prefeito;
  • Lenon Roque Alves Domingos, agente penitenciário e motorista escalado.

Durante a revista, a PM encontrou:

  • Pistola Taurus .380 com numeração raspada
  • Três carregadores
  • Mira laser
  • 45 munições (9 mm e .380)
  • Colete balístico

A arma estava visível no assoalho dianteiro, ponto crucial para a conclusão da juíza.


A versão de Ney: “Culpa do Waze” — e as incoerências expostas pela Justiça

Ney declarou ter se perdido orientado pelo aplicativo Waze e negou ter conhecimento da arma e dos acessórios.

Mas as versões apresentadas divergem:

  • Ney afirmou que estava em compromisso oficial em Arthur Nogueira;
  • Lenon declarou que o prefeito entrou em uma imobiliária em Cosmópolis;
  • Ney disse que buscava um banheiro por dor de barriga, mas “teve vergonha da atendente”;
  • Aos policiais, afirmou que foi à cidade para “comprar terreno”.

A juíza classificou as versões como “precárias e incompatíveis com a lógica dos fatos”.


Renato Oliveira: o articulador político citado em múltiplas investigações

Se Ney é o centro da narrativa, Renato Oliveira é o elo que costura diversos episódios envolvendo o grupo político.

Foi ele quem designou Lenon Domingos como motorista de Ney naquela noite. Atuou como assessor direto e figura de confiança por anos. Sua projeção política o levou ao cargo de vereador em Embu das Artes.

O escândalo nacional envolvendo Renato Oliveira — Fantástico (30/01/2022)

Renato foi personagem de uma reportagem exibida no programa Fantástico, da TV Globo, em 30 de janeiro de 2022. O conteúdo apresentou:

  • a detenção de Renato em um resort no Rio de Janeiro;
  • seu indiciamento por injúria racial;
  • vídeos de discussões com funcionários e hóspedes;
  • depoimento prestado à polícia.

Na entrevista, Renato negou veementemente as acusações:

“Eu não sou racista, de forma alguma. Jamais faria isso com alguém.”


Lenon e Renato: juntos no veículo em uma das investigações mais graves já registradas na cidade

Segundo investigações da Polícia Civil, o Ministério Público e os autos do processo que apuram a tentativa de homicídio contra o jornalista Gabriel Binho, em 2017 — processo que ainda não possui sentença:

Lenon Roque Alves Domingos e Renato Oliveira estavam juntos dentro do veículo identificado pelas autoridades como envolvido no ataque contra o repórter.

De acordo com os autos:

  • o carro onde estavam Renato e Lenon teria colidido com a moto do jornalista;
  • após a queda, disparos teriam partido de dentro do veículo;
  • Binho sobreviveu ao atentado;
  • o caso foi classificado como tentativa de homicídio triplamente qualificado.

A juíza não usa esse episódio para aumentar penas, mas cita o contexto como relevante para compreender o perfil dos envolvidos.


A sentença: “Inverossímil que Ney desconhecesse a arma”

A juíza escreveu:

“É inverossímil que o então prefeito desconhecesse a arma, que circulava livremente no interior do veículo oficial.”

Ela destacou ainda:

  • a arma estava à vista;
  • Ney e Lenon se revezavam ao volante;
  • a quantidade de munição chamava atenção;
  • o cargo de prefeito exige conduta irrepreensível.

Ambos poderão recorrer em liberdade.


A trajetória sob questionamento: falhas institucionais e poder político

Uma reportagem especial do The Intercept Brasil (2018) descreveu a trajetória de Ney Santos como um retrato das fragilidades institucionais brasileiras, apontando:

  • investigações que se arrastaram por anos;
  • lacunas na fiscalização estatal;
  • alianças políticas controversas;
  • episódios violentos envolvendo aliados próximos.

Conclusão: a noite que expôs muito mais que uma arma raspada

A condenação de Ney Santos reabre discussões profundas sobre as conexões políticas que o cercam — e sobre os episódios envolvendo figuras centrais de seu círculo, como Renato Oliveira e Lenon Domingos.

A sentença documenta uma noite. Mas as sombras que ela revela atravessam anos de investigações, conflitos, denúncias e repercussões.

GOSTOU DESSE CONTEÚDO?

Então ajude o Embu News e compartilhe

Facebook
WhatsApp

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *