Uma denúncia apresentada pela jornalista Andréia Sampaio em 2023 revelou um suposto esquema milionário envolvendo a Santa Casa de União de Minas e um contrato com a Prefeitura de Embu das Artes (SP).
A denúncia aponta fraudes documentais, desvio de recursos públicos e outras irregularidades que estão sob investigação de diversos órgãos da Justiça. Agora, a jornalista, que atua com reportagens investigativas também na região do Triângulo Mineiro, afirma estar sofrendo ameaças de morte.
Anúncio da denúncia
No dia 17 de março, Andréia publicou um vídeo em suas redes sociais afirmando que divulgaria uma denúncia grave envolvendo um secretário municipal e recursos públicos.
“Pessoal, sexta-feira vocês vão ver um vídeo histórico, uma denúncia muito grave envolvendo um secretário do governo e também um familiar que está há anos na prefeitura. Vai lavar a alma de muita gente que está engasgada com esse secretário há tempos. O negócio é feio!”
Segundo a jornalista, a denúncia apontaria irregularidades envolvendo o Secretário de Turismo de Iturama, Marco Antônio Queiroz Malta, conhecido como Marquinhos Malta.
Ameaças e pedido de proteção
Poucos dias após anunciar que revelaria o suposto esquema, Andréia disse ter recebido uma ameaça de morte.
Em um vídeo gravado em frente ao Ministério Público, ela informou que havia solicitado uma medida protetiva para si e sua família.
“Estou aqui na frente do Ministério Público. Eles estão me aguardando. Vim trazer uma documentação e também pedir uma medida protetiva para mim e para minha família, porque hoje recebi uma ameaça de morte.”
Após o depoimento, Andréia registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil, onde apontou o secretário Marco Malta como possível mandante da ameaça.
“Marco Antônio Queiroz Malta, você é um possível mandante. A denúncia é referente a você e você sabe disso. A justiça tarda, mas não falha.”
Além disso, Andréia divulgou um áudio que teria sido enviado como forma de intimidação. Na gravação, uma voz masculina faz ameaças:
“Se continuar falando sobre a prefeitura, você pode ter certeza que vai acontecer alguma coisa. Já dei o papo, sei onde você mora.”
Segundo a jornalista, o número de telefone que enviou o áudio também enviou mensagens ameaçadoras para sua filha.
Alegações de fraude na Santa Casa de União de Minas
A denúncia de Andréia expõe um suposto esquema fraudulento envolvendo a Santa Casa de União de Minas, cidade com pouco mais de 4 mil habitantes. O esquema está ligado a um contrato de mais de R$ 66 milhões com a Prefeitura de Embu das Artes, destinado à gestão da saúde pública no município paulista.
Cronologia dos fatos
A denúncia descreve uma série de movimentações suspeitas nos bastidores da Santa Casa:
• 26/03/2021 — Maria Rita foi eleita presidente da Santa Casa de União de Minas para um mandato de quatro anos.
• 22/06/2022 — Maria Rita assinou uma procuração concedendo plenos poderes a três indivíduos: César, Luís Fernando e Luciano Candona. O documento foi registrado em um cartório de Iturama (MG).
• 07/02/2023 — Maria Rita convocou uma eleição antecipada para o dia 07/03/2023, supostamente por pressão do prefeito de União de Minas, Jeová. Essa manobra teria sido planejada para facilitar a transformação da Santa Casa em uma Organização Social (OS), viabilizando o esquema.
• 07/03/2023 — Edmar, conhecido como “Gatinho”, secretário na Prefeitura de União e aliado político do prefeito Jeová, foi eleito presidente da Santa Casa. Ele também alterou o estatuto da entidade sem a presença de Maria Rita.
• 08/03/2023 — No dia seguinte, Edmar aprovou a criação de uma filial da Santa Casa em Embu das Artes, registrada em um endereço inexistente: Avenida Elias Yazbeck, 1415, Vila Cercado Grande.
• 27/03/2023 — Edmar assinou uma procuração concedendo plenos poderes à empresa HP Contabilidade, localizada em Pirangi (SP), a cerca de 600 km de União de Minas. O documento foi assinado em um cartório de Iturama e tinha validade de cinco anos, em caráter irrevogável e irretratável.
• 05/04/2023 — A HP Contabilidade repassou essa procuração a Luciano Candona, morador da Chácara Santo Antônio, na Zona Sul de São Paulo.
Contrato e suspeita de assinatura falsificada
Em 09/03/2023, a Santa Casa assinou um contrato com a Prefeitura de Embu das Artes no valor superior a R$ 60 milhões para gerenciar os prontos-socorros e a UPA da cidade.
A denúncia afirma que a assinatura eletrônica utilizada foi falsificada. Embora Maria Rita já não fosse mais presidente da Santa Casa, seu nome apareceu como signatária do contrato.
Os valores desse contrato foram depositados em uma conta bancária aberta por Luciano Candona, na cidade de Botucatu (SP).
Entre março e setembro de 2023, essa conta recebeu R$ 41.461.571,62. Além disso, houve um pagamento adicional de R$ 7.683.646,35 a título de indenização.
Enquanto esses recursos eram movimentados, a Santa Casa de União de Minas acumulou mais de R$ 500 mil em protestos e enfrenta diversos processos trabalhistas.
Vínculos políticos e expansão do esquema
A denúncia aponta que o advogado responsável por validar a alteração do estatuto da Santa Casa foi o Dr. Ronivaldo, irmão do prefeito Jeová. Em 2024, ele foi eleito e se tornou o atual vice-prefeito de Iturama.
O suposto esquema envolve uma rede de pessoas e empresas espalhadas por diferentes cidades e estados, incluindo:
• Santa Casa de União de Minas (MG)
• Escritório de Advocacia em Araraquara (SP)
• HP Contabilidade em Pirangi (SP)
• Filial fictícia em Embu das Artes (SP)
• Conta bancária aberta em Botucatu (SP)
• Assinatura eletrônica registrada em João Pessoa (PB)
Investigação e desdobramentos
O caso está sob investigação do Ministério Público de Embu das Artes e de autoridades estaduais e federais.
Nota de repúdio do Portal Embu News
A equipe do portal de notícias Embu News repudiou veementemente qualquer tipo de ameaça à vida de cidadãos que denunciam irregularidades e lutam por justiça.
“A liberdade de expressão e o direito à segurança são pilares fundamentais e não podem ser comprometidos por intimidações.” Gabriel Binho repórter do Embu News
Conclusão
A denúncia segue sob investigação e revela um suposto esquema que atravessa cidades e estados, envolvendo figuras políticas e empresários. Enquanto isso, a jornalista Andréia Sampaio segue denunciando irregularidades e buscando proteção diante das ameaças que afirma ter sofrido.
