Empresa familiar de secretário fecha contrato milionário com prefeitura

Enquanto frota municipal está sucateada, Embu das Artes gasta mais de R$ 20 milhões anuais em aluguel de veículos; suspeita de favorecimento político

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A Prefeitura de Embu das Artes gastou mais de R$ 20 milhões apenas em 2024 para alugar veículos, enquanto motoristas concursados trabalham com carros sucateados, sem pneus e documentos atrasados. Mas a situação se agrava quando se descobre que uma das empresas contratadas não tem sede operacional nem frota própria, apenas um endereço residencial em Itapecerica da Serra.

Prefeitura de Embu das Artes / Foto reprodução

A BC Construções e Transportes Ltda, responsável pelo contrato 03/2025, no valor de R$ 6.476.975,22, pertence a Felipe Pereira da Silva, filho de Fábio Pereira, irmão de Francisco Carlos, o “Kal”, atual secretário de Mobilidade Urbana de Embu das Artes. O vínculo familiar e político com a administração municipal levanta suspeitas de tráfico de influência e favorecimento na contratação.

Na foto: Fábio Pereira, irmão de Francisco Carlos “Kal” e Felipe Pereira da Silva/ Foto reprodução

O Embu News esteve no endereço registrado da empresa e confirmou: não há qualquer estrutura comercial no local, apenas uma residência. Nenhuma placa, funcionários ou veículos que indiquem atividade de locação de carros, muito menos um contrato milionário com a prefeitura.

Endereço registrado da BC Construções e Transportes Ltda em Itapecerica da serra/ Foto Gabriel Binho

Diante dessa descoberta, a pergunta que fica é: como uma empresa familiar de um dos principais secretários da cidade conseguiu um contrato milionário para fornecer veículos à administração municipal?

Frota abandonada, contratos milionários e nenhuma explicação

Enquanto milhões são gastos com locação de veículos, motoristas da prefeitura enfrentam dificuldades diárias para trabalhar com carros deteriorados. Muitos relatos indicam que veículos quebram no meio do serviço, estão sem pneus adequados ou sequer têm documentos regulares.

Mesmo diante desse cenário crítico, a administração municipal mantém um esquema de terceirização de locação de veículos que movimenta cifras milionárias. Só em 2024, foram gastos R$ 20.533.245,92 com aluguel de veículos. Veja os principais contratos:

• Nevada Rent a Car Ltda (Guarulhos) – R$ 807.771,21

• Alfalix Serviços e Transportes Ltda (Embu) – R$ 10.489.128,59

• Credicard Locadora de Veículos Ltda (Minas Gerais) – R$ 1.626.558,97

• Still Transporte Eirelli (Biritiba Mirim – SP) – R$ 7.279.735,72

• L8 Serviços e Transportes Ltda (Guarulhos) – R$ 330.051,43

A BC Construções e Transportes Ltda não estava entre as contratadas em 2024, pois foi reativada apenas em agosto do mesmo ano. Mas poucos meses depois, já fechava um contrato milionário.

A questão que se impõe: como uma empresa sem estrutura física e frota própria foi escolhida para prestar esse serviço?

Com R$ 20 milhões, prefeitura poderia resolver o problema da frota

Se ao invés de pagar por locação, a prefeitura tivesse investido na compra de veículos próprios, os números seriam bem diferentes:

• Com os R$ 20 milhões anuais, seria possível comprar cerca de 171 carros populares (a R$ 120 mil cada).

Carros populares no valor de até R$ 120 mil cada/ Foto reprodução

• Caso a prefeitura optasse por uma frota mista, poderia adquirir 30 vans Sprinter (avaliadas em R$ 400 mil cada), totalizando R$ 12 milhões. Com o restante, ainda seria possível comprar 71 carros populares.

Van sprinter/ Foto reprodução

• Se essa estratégia fosse mantida por 10 anos, a economia acumulada seria de mais de R$ 200 milhões.

Ou seja, a prefeitura poderia ter uma frota própria e moderna, eliminando completamente a necessidade de locação e gerando economia a longo prazo.

Por que essa solução não é adotada? Quem está se beneficiando desse modelo de gestão?

Indícios de favorecimento e a falta de transparência

O contrato com a BC Construções e Transportes Ltda reforça a necessidade de uma investigação detalhada sobre os contratos de locação da Prefeitura de Embu das Artes. Os indícios de favorecimento e falta de transparência são evidentes:

1. A empresa pertence à família de um membro do alto escalão do governo municipal.

2. Foi reativada poucos meses antes de assinar um contrato milionário.

3. Está registrada em um endereço residencial, sem estrutura para operar como locadora de veículos.

4. Enquanto a frota própria está sucateada, milhões continuam sendo destinados à locação.

A população de Embu das Artes paga caro por esse modelo de gestão. Quem realmente ganha com ele?

O que está por trás dessa decisão de continuar alugando veículos de terceiros enquanto a frota pública se deteriora?

Enquanto contratos milionários são assinados, motoristas municipais seguem sem condições de trabalho e a cidade perde a oportunidade de investir em um sistema mais econômico e eficiente.

A resposta pode estar no endereço da empresa contratada. Ou na conta bancária de quem autorizou esse contrato.

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